quarta-feira

Elles, 2012 de Malgorzata Szumowska




A personagem de Juliette Binoche está escrevendo um artigo para ELLE francesa sobre estudantes que se prostituem para pagar seus estudos e ter uma vida decente em Paris. Ao mesmo tempo está as voltas com um jantar que ela e o marido vão dar em casa naquela noite. Enquanto se divide entre ouvir os depoimentos dessas meninas, tentar escrever e preparar seu Coq au vin, toda a trama se desenrola.
Ela entrevista duas garotas que contam absolutamente tudo que fazem e sentem como prostitutas, enquanto Anne (Binoche) as humaniza e as aproxima de si. São meninas para sempre marcadas pela opção que fizeram e se acham menores que a maioria das mulheres. "Posso ler Flaubert, Proust, mas nunca serei como você" - uma delas diz.
Mas Elles é um filme sobre a sexualidade masculina, contada a partir do feminino. É tudo para falar deles, o quanto podem ser hipócritas nas escolhas dos próprios prazeres dentro e fora do casamento. Não é um julgamento da prostituição em si colocando-a como tema central.
A partir do envolvimento de Anne com as garotas, ela balança sua vida pessoal. Enquanto para ela novas interrogações surgem para o seu casamento, para seu marido fica cada vez mais claro que a mulher está alterada por causa do artigo que escreve e que tão logo ela se livre dele, tudo voltará ao normal. Na concepção dele, "todo homem procura puta" e "puta é puta". Na dela, completamente envolvida pelas histórias, não é bem assim, e se todo homem procura puta, alguma responsabilidade por isso o casal tinha.
Enquanto o dia passa, mais aflita e irritada ela fica, enquanto lida com assuntos domésticos a cabeça ferve e quando o marido chega em casa no fim do dia, ela está a ponto de explodir.
E depois de tudo, a cena do café da manhã é angustiante, por mais transformada que ela possa estar, a mudança não conseguiu chegar no casamento, que parece permanecer inquebrantável, morno, vazio, confortável, seguro, exatamente como antes. 


A montagem é bem sacada, segura o filme sem deixar ficar monótono. As cenas do dia em que passa escrevendo e cozinhando são intercaladas com as cenas das entrevistas em dias distintos e com cenas da vida de cada uma das garotas.
A atuação de Juliette Binoche é sutil, são pequenos movimentos da boca e do corpo que transmitem por exemplo, o desconforto da personagem enquanto uma das garotas conta quem são seus clientes. Conseguimos ler seus pensamentos. Ou o constrangimento curioso enquanto uma delas marca um encontro na sua frente, a atriz domina a arte e está linda e talentosa como sempre.



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