segunda-feira

Hitchcock, 2013 de Sacha Gervasi




Em se tratando de um gênio do cinema, a melhor opção quando se resolve fazer um filme sobre sua vida é mesmo tentar contar uma determinada passagem. E nada melhor do que escolher os bastidores de uma das mais polêmicas obras de Hitchcock.
Psicose queria ser evitada a por todos, nem a mulher do cineasta, seu amuleto da sorte e importante montadora de cinema, queria concordar com "um terror psicológico que beirava o mau gosto". Mas ele queria, precisava se reinventar, e já tinha ficado obcecado pelo livro de Robert Bloch. Determinado, comprou os direitos do livro em segredo e penhorou a própria casa para bancar os custos do longa.
Senti falta de uma viagem mais psicológica pela sombra do diretor. O que o movia, porque aquela obsessão desmedida pelas atrizes e porque se sentia traído quando elas estavam apenas tentando viver a vida, casar e ter filhos? Porque necessitava de tanta devoção?
Anthony Hopkins está incrível no papel. Olhar penetrante e trejeitos idênticos. Conseguiu fazer a mesma postura caída para trás. Perfeito naquela maneira quase sarcástica de dirigir seus atores, buscando algo tão real que beirava a própria psicose, suas atrizes sentiam medo de verdade e o olhavam com certo pavor. Era daí que saía a cena perfeita. Ao mesmo tempo encantava pelo brilhantismo, tinha uma nuvem de mistério e terror a sua volta. Isso é o mais interessante sobre esse homem!
Contar a vida de um ser humano como Alfred Hitchcock é tarefa hercúlea, senão impossível. Precisaria de um estudo tão profundo que ninguém talvez fosse ao cinema. Assim, ele permanece misterioso. E saimos de lá ainda sem saber o que se passava por trás daquele olhar mortal, porém um tanto satisfeitos  em participar de alguma forma do set de filmagens daquele artista tão excêntrico.


quinta-feira

A filha da Herege, de Kathleen Kent




A Filha da Herege conta a história de uma menina vivendo a caça as bruxas na época da colonização inglesa nos Estados Unidos. Na verdade é uma mulher, deixando por escrito seu legado para a neta, explicando de onde ela veio e tudo que sabe a respeito da origem da família.
O livro nos faz voltar no tempo, época em que viveu nas aldeias americanas, sobrevivendo do que se plantava, parindo em casas muito simples com parteiras e curandeiras que usavam ervas como medicamentos.
E ainda assim, em tempos mais remotos a essência humana é a mesma, os problemas existenciais e emocionais são exatamente os mesmos de hoje, a cobiça, a inveja, o ciúme mostram que não importa a época que se vive, o ser humano carrega dentro de si a capacidade nata de fazer o bem e o mal.
Naquela época, as famílias giravam em torno das mulheres, eram elas que criavam os filhos, alimentavam a casa e organizavam as colheitas. Os homens tinham importante papel na execução de um trabalho rural árduo e nas caças necessárias para a sobrevivência. As mulheres tinham a sabedoria, os homens tinham a força. Por causa dessa sabedoria foram vistas como bruxas e obrigadas a pagar um preço muito alto por serem pessoas especiais. Como ainda hoje, dons especiais geram recalques. Não são todos que labutam no caminho árduo do aprendizado, preferem cobiçar o que é do outro, sem ter que lutar pelos próprios feitos.
De todo modo, o livro faz muito mais um retrato de um período do que romantizar sobre o tema. Deixa claro que tudo o que aconteceu naquele tempo foi muito mais um surto psicótico de uma dúzia de meninas fantasiosas do que necessariamente o medo do poder feminino. A questão não eram as curas ou manejar de emplastros ou poções e sim falta do que fazer em tempos de varíola, quando essas pessoas ficavam em casa para tentar ficar a salvo da doença.



terça-feira

O Mestre | The Master, 2013 de Paul Thomas Anderson





Entre tantos filmes favoritos ao Oscar do último mês, me chamou atenção o secundário O Mestre. Pouco comentado, o filme de Paul Thomas Anderson tem muito o que fazer pensar. As aventuras de Pi do Ang Lee foi o queridinho sobre o tema, mas é aqui, no longa de Anderson, que se questiona verdadeiramente a fé.
Primeiro ponto. Dois homens que carregam a mesma história de vida, frutos de uma guerra sofrida, constroem para si vidas opostas. Um progride, o outro perambula no limbo. Como, saindo do mesmo lugar, podemos traçar caminhos tão opostos? Nós somos os únicos responsáveis por construir uma vida que nós possamos amar, os únicos responsáveis por encontrar o nosso certo, o nosso sentido para tudo e o livre arbítrio é nossa maior dádiva, mas também pode ser nossa própria bancarrota.
Sim, o personagem de Philip Seymour Hoffman está completamente perdido, muitas vezes não sabe o que esta fazendo, mas de alguma forma está fazendo, de alguma forma está progredindo, construindo o encontro com alguma coisa que ele acredita poder existir. E sua tentativa de ajudar, dentro de uma seita improvável, é genuína. Ele acredita que é preciso acreditar em alguma coisa, qualquer coisa, para conseguir viver. Enquanto o personagem do incrível Joaquin Phoenix, continua parado no mesmo drama pessoal. Que fique claro, não questiono aqui a veracidade do que ele prega, nem a qualidade da sua religião, e sim a capacidade de um homem acreditar em alguma coisa maior e disso criar recursos para viver bem. Ele é um pilantra? Sim, me parece que é. Em um determinado momento uma discípula o questiona, veemente, e vemos o quanto ele também tem dúvidas, claro que tem!
Por último, pobres são os fanáticos, que não possuem frieza para questionar. As religiões estão aí, buscar uma verdade interior é apenas o caminho. E ter mais perguntas que respostas sempre foi o que moveu o homem.



sexta-feira

Um minuto de silêncio



Há dois dias essa história, já contada há alguns meses voltou à tona. Na internet as coisas publicadas tomam forma surpreendentes e se espalham em questão de minutos. O que resgistro aqui virou febre de repente, e a cada cinco amigos do facebook, um compartilhou esse video.
É, sim, um dos videos mais lindos e cheios de emoção do mundo. E por isso não tenho como não deixar de guardá-lo aqui, no baú das minhas lembranças.


"Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver.

23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. Ulay chegou sem que ela soubesse e... Foi assim."






A cena acima é retirada do documentário "Marina Abramovic: The Artist Is Present", que acompanha a trajetória dessa retrospectiva. 





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