segunda-feira

E agora hein?




Hoje me peguei pensando no porque as pessoas precisam tanto da hipocrisia para conviver. Ser politicamente correto será o mal do século, como a peste foi um dia?
Porque tudo precisa caminhar tão bem sempre, tão superficial para não criar atritos? As pessoas estao tão de saco cheio umas das outras que falam só o que o outro quer ouvir, assim não criam problemas para elas ou é o medo do conflito de idéias?
Não sei. Quanto mais converso com as pessoas, menos autênticas elas me parecem. Menos parecem dizer o que de fato têm vontade, menos assumem o que fariam. Ninguém mais se banca!
Existem aquelas que ficam no meio termo, sem coragem de pular para algum lado do muro, sem saber se, em algum momento, bem no íntimo, elas se soltariam e conseguiriam estar completamente a vontade.
As máscaras estão em voga, ninguém usa mais a cara lavada. Enquanto todo mundo quer se esconder algumas poucas acabam se expondo para de alguma forma tentar arrancar um pouco da falta de verdade que tanto insiste em se estabelecer como característica social. Pobres coitados, são julgados e tratados como sonhadores, inocentes, imaturos. Vivem na minoria, tentando destruir personas enquanto os outros insistem em se manter fiel às suas.
Ah que preguiça!


A vida de outra mulher, 2012 de Sylvie Testud




Ja estava na hora de mais um filme arrebatador. A vida de outra mulher nos faz pensar em como podemos nos perder de nós mesmos ao longo da vida. Podemos nos tornar pessoas que nós mesmos desaprovaríamos.
Marie acorda no dia do seu aniversário de 41 anos e descobre que perdeu a memória dos últimos quinze anos. É uma executiva de sucesso, famosa, arrogante e está a beira do divórcio, mas sua última lembrança é do fim de semana em que conhece seu marido e se apaixona por ele, as vésperas de fazer a entrevista de emprego que mudará a sua vida. 
A partir daí ela vai tentar descobrir quem é, que papel ocupa no mundo, quem são todas aquelas pessoas a sua volta. Descobre que se tornou alguém completamente diferente do que imaginava ser, alguém que definitivamente ela não gosta e tampouco sabe como se comportaria se estivesse em sã consciência. É como se ela pudesse sair do corpo para analisar a vida que tinha escolhido viver, só que esquecendo de como chegou até ali.
Esta tão refém dela mesma, tão condenada naquele entorno que não consegue resgatar seu ideal. Quer amar o marido mas descobre que já colocou tudo a perder há muitos anos. Vai desesperadamente tentar reconquistá-lo, reconquistar o que abriu mão sem saber como.
Durante esses anos se perdeu no poder, no trabalho, no ciúme. Perdeu o convívio com o filho, brigou com a mãe. Quando conseguiu pistas assistindo a videos de suas entrevistas pelo mundo não gostou do que viu. 
Como podemos chegar a esse ponto? No filme, ela acorda congelada na Marie de quinze anos antes, com os pensamentos da Marie que foi no passado, mas e nós que não temos amnésia para nos salvar? E nós que estamos completamente "cientes" dos nossos caminhos traçados? Estamos agindo de maneira que nos orgulharemos depois? Será que estamos nos perdendo de nós mesmos, dando valor para o que no fundo não nos faz felizes?

Quero ver e rever esse filme. Aliás é algo para se ter em casa e colocar no dvd de tempos em tempos. Exame de consciência sem precisar de terapia!
Juliette Binoche está simplesmente incrível. Quanta competência para viver o papel. O ator que faz seu marido é um dos homens mais lindos ou charmosos dos últimos tempos. A trilha sonora é ótima e o roteiro, finalmente, é im-pe-cá-vel. 



A Condessa Cega e a Máquina de Escrever, de Carey Wallace




Uma história da Itália do século XIX, A condessa cega e a máquina de escrever é poesia pura. Não na linguagem nada rebuscada, mas nos sentimentos, no estilo de vida das pessoas, no que as faziam felizes, na vida simples vivida no campo, com a natureza fazendo parte de cada minuto do cotidiano, e no tempo que passava sereno, trazendo calmaria.
Bem jovem Carolina percebe que está ficando cega. Conforme os dias vão passando ela conta de um a um, mas as pessoas não dão tanta importância para suas palavras. Ela segue seus dias convivendo com a visão debilitada, com seu entorno se transformando a cada dia.
Quando a visão é completamente substituída pela escuridão silenciosa, Carolina já imaginava o que a esperava e descobre a partir daí uma maneira de viver, das lembranças que tinha quando enxergava, dos novos sons que agora povoavam seu redor.
Na prática, ficou mais difícil chegar nos lugares escondidos na floresta que tanto passeava desde criança, mas passou a ouvir música com a alma e foi a única no vale a escrever cartas numa primária e inédita máquina de escrever. Sonhava com mais realidade e descobriu habilidades que não teria se a sensibilidade não tivesse, a partir de então, aguçado seus instintos e a tornado capaz de viver tão a flor da pele.


"Nada era omitido. Se ela deixasse, ele começava com um beijo casual em sua nuca enquanto a guiava pela floresta e terminava com os dois emaranhados nas agulhas de pinheiros ao lado do caminho argiloso. Cada noite era uma experiência ímpar. Ele abria um a um os botões de seu vestido, afastava-o de seus ombros, mas se mantinha a um passo de distância, delineando seus lábios, seu maxilar, seus seios, para ver onde ela respondia, quando ela prendia a respiração. Quando estavam deitados, aconchegados um no outro, ele cobria seu rosto com as mãos, estudando suas feições pelo tato, como se o cego fosse ele."


A Sagrada Família, de Zuenir Ventura




Livro leve, gostoso de ler. Zuenir provavelmente temperou suas memórias com alguma ficção para nos contar a vida numa cidade do interior do Rio de Janeiro na época de Getúlio Vargas.
Nos anos 40 o Brasil ainda era um país bem provinciano. Não que não seja ainda em muitos casos, mas na cidade de Florida as moças casavam virgens e não podiam namorar no banco da praça, nem tampouco sair de mãos dadas com o namorado porque podiam ser malfaladas, e essa condição acabaria com qualquer reputação, condenando a pobre moça a morrer solteirona, porque homem nenhum iria manchar a honra com uma mulher indecente.
Assim sendo, nosso querido autor nos conta o que acontecia por baixo dos panos. Sim, porque o namoro, o beijo na boca, transar porque sentiu vontade, tudo isso sempre aconteceu, só que sem ninguém ver, hã? Ainda hoje é assim, só que pior, porque as pessoas são rotuladas se começam a falar muito o que pensam. Século XXI, ano 2012, era de Aquário... e ainda as pessoas estão achando que ser politicamente correto é sinônimo de dignidade.
Manuéu, médico bem sucedido, herói do nosso livro, nos conta de forma muito bem humorada suas memórias daquela cidade tão peculiar, onde a neblina escondia os namorados e onde o sol brilhava chamando os turistas para o verão. Ali vivera a infância e os primeiros anos da juventude. No começo ia nas férias para ficar na casa da tia Nonoca, depois seus pais se mudaram para Florida com ele. Tia Nonoca era uma mulher viúva de 37 anos que precisava manter a aparência de mulher honesta, enquanto ardia de tesão por dentro. Criou duas filhas com a mesma convicção, precisavam encontrar bom casamento e cuidar para não cair em tentação. Bem, as coisas não saíram exatamente como tia Nonoca gostaria.

A Sagrada Família é um livro para ler na praia, no avião, na sala de espera, ou em casa mesmo em três ou quatro sentadas, naqueles dias em que tudo que você quer é não pensar em nada que não tenha bom humor.



domingo

Last Nigth, 2012 de Massy Tadjedin





Apenas uma Noite. Apenas uma noite é o tempo que se precisa para fazerermos escolhas que vão nos marcar para sempre. O convívio do casamento pode deixar o desejo pelo outro sumir e ninguém tem culpa de se sentir atraído por outra pessoa. Mas a maneira como homens e mulheres lidam com as situações desse tipo são profundamente diferentes.
Na casa de amigos, Joanna, vivida por Keira Knightley, percebe um clima entre seu marido e uma colega de trabalho, só um pobre coitado para achar que a mulher não sacaria aquela situação. Toda e qualquer mulher saca bem de longe qualquer olhar mais interessado de qualquer homem, não só o dela, para qualquer outra mulher. Algumas acreditam no sexto sentido, outras não.
Bem, no dia seguinte ele viaja a trabalho com a atraente colega vivida por Eva Mendes. Depois de se despedirem em casa Joanna sai para tomar café e cruza com um antigo amor parisiense que está na cidade para laçar um livro. Saem para jantar.
E aí é que se vê toda a diferença. O filme alterna cenas de cada casal, o marido com Eva Mendes na Filadélfia e Keira com o escritor em NY. Os dois estão na mesma situação, ou seja, estão com outra pessoa e estão loucos para viver a atração que sentem. E os dois estão com a consciência pesada. Joanna se entrega, consegue se divertir, vive momentos que provavelmente não ira esquecer, mas no final das contas não consegue transar com o ex. O marido passa o tempo todo travado, duro, mal consegue olhar para a mulher que tanto quer, embassa a situação até não poder mais e depois a leva para a cama.
Porque Joanna não transou? Porque o marido não relaxou?
A questão de Joanna foi sentir que seu coração não era exclusivamente do seu marido e a questão do marido foi ter transado com a mulher gostosa do trabalho. Ambos voltam para casa e sentem que alguma coisa está errada, mas ninguém tem coragem de falar...e assim fizeram suas escolhas, e assim vão continuar a vida, com esse segredo entre eles.



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