quarta-feira

O eterno dilema do facebook!

Sempre ouvi amigos reclamando sobre o site, coisas do tipo: está muito chato, já sofri desentendimentos com o namorado, é uma invasão de privacidade, e por aí vai...Também já vi gente que usa assiduamente o site de relacionamento, mas diz pra você que não gosta, com aquela mesma cara do típico: eu não vejo novela da globo, que é um assunto muito bom pra outra hora.
O que quero refletir é como as pessoas usam ou enxergam esse site, com base no meu ponto de vista, de uma verdadeira viciada. O facebook virou um canal de expressão, é uma maneira de estar batendo papo numa mesa de bar com amigos, onde você coloca na roda assuntos para serem discutidos. Ou polemizados, o que muitas vezes é o meu caso.
Algumas pessoas usam de uma maneira nada positiva, não querem aparecer mas azedam todo e qualquer post. Nada contra os típicos voyeurs, mas não me conformo com os politicamente corretos. Tenho amigos queridos politicamente corretos, mas é tão chato. Vamos combinar uma coisa: não existe família Doriana, aquilo é comercial de tv. 
Eu entendo o humorista Rafinha Bastos quando diz que o Brasil está ficando difícil demais pra ouvir piadas, as pessoas estão se ressentindo demais, rindo menos de si mesmas. Onde era pra ser engraçado vira hostil. você se sente obrigado a pisar em ovos porque ali tem família, amigos quadradinhos, pessoas do trabalho. Então vamos bloquear todo mundo! As pessoas adicionam o fulano, conhecido na noite passada e portanto precisam manter o decoro. Já é tão difícil lidar com quem te conhece há anos e ainda assim te censura! Te interpreta mal.
Aliás é outra coisa bem difícil de lidar na internet, a má interpretação, a distorção da sua voz. Você não tem o calor humano, o tom de voz, o olhar, precisamos levar isso em conta antes de nos incomodarmos com o comentário alheio. As pessoas estão vendo cada vez menos o lado bom das coisas, o lado positivo, o lado feliz. Ta todo mundo tão amargurado assim? Parece que tá todo mundo voduzando todo mundo! Relaxem pessoas! Existe gente feliz e que está cansada de tanta hipocrisia. Tem gente que quer mesmo ser feliz e rir de si mesmo.
Já ouvi que podemos optar por ser feliz. É só uma questão de querer. Deve ser por aí mesmo. Você já percebeu que quando planta gentileza colhe gentileza?
Depois de tudo isso fico pensando no meu jeito de ver o meio como um canal de expressão. Tenho um amigo que definiu incrivelmente: o facebook é uma cidadezinha de interior em proporções globais. Talvez eu não me conforme mesmo com o pensamento de cidadezinha do interior, nem na internet. Talvez esteja na hora de repensar e procurar outros canais pra escrever o que penso sem precisar escrever um texto sobre o assunto.

Brooklyn de Colm Tóibín

Brooklyn é mais um livro sensível, real. Adoro livros de 'vida real'. É claro que muitas vezes é maravilhoso ler sagas utópicas, ou místicas e irreais como a Hora das Bruxas, um dos livros mais incríveis da minha vida. Mas quando lemos histórias reais, mesmo romanceadas, que é o caso de Brooklyn, elas são espelhos de pessoas reais. Somos nós muitas vezes ali. Assim acontece nesse livro comovente, simples e real. Eilis é uma garota que sai da Irlanda nos anos 50 para viver uma vida no Brooklyn, em Nova Iorque. Deixa para trás a vida aconchegante na casa da família para viver numa pensão com outras meninas e viver uma vida completamente distante da sua realidade. Lá se descobre, o que muitas vezes acontece com quem sai cedo de casa e precisa estar longe da família para se entender e quando volta está tão diferente e tão madura que pela primeira vez reconhece o quão transformadora foi sua ida para a América. Só agora ela tem consciência da própria vida e das escolhas que fez.






Trechos do livro...

"Ela se pegou agradecendo ao rapaz num tom de voz que Rose usaria, um tom afetuoso e pessoal, mas também ligeiramente reservado, embora não fosse tímido, um tom usado por mulheres com pleno controle de si mesmas. Era uma coisa que não conseguiria fazer na cidade ou em nenhum lugar onde seus amigos ou familiares pudessem vê-la."

"Queria deixar aberta a possibilidade de que os motivos de todas fossem bons, mas era pouco provável, pensou, que a sra. Kehoe tivesse verdadeiramente lhe cedido o quarto por pura generosidade e era pouco provável também que a srta. McAdam e as outras garotas nao dessem, de fato, importância para aquilo e tivessem apensa desejado preveni-la (...)
Eilis gostaria de ter uma amiga de verdade entre as pensionistas a quem pudesse pedir uma opinião. E se perguntou então se o problema não seria ela mesma, que via maldade nos motivos quando não havia nenhuma intenção oculta."

"Agora Eilis daria qualquer coisa para ter ficado com elas, para ter se vestido como elas, para ser deslumbrante também, para estar entretida demais com as piadas e com os sorrisos dos que estavam em volta a ponto de nem perceber a presença de alguém que as olhasse com a respiração ofegante, como ela fazia agora.(...) Eilis não conseguia olhar para suas duas colegas pensionistas, tinha medo de ver algo de sua própria admiração idiota e de seu desconforto no rosto delas, medo de ver sua própria sensação de ser incapaz de dar a impressão de que estava se divertindo."

"Quando voltou o olhar para baixo, viu que ele não estava sorrindo; no entanto, parecia inteiramente a vontade e curioso. Havia nele um quê de desamparo, ali, esperando; sua disposição para ser feliz, sua ânsia, Eilis notou, o tornava estranhamente vilnerável.(...) Ele estava encantado com as coisas, assim como estava encantado com ela, e Tony nunca tinha feito outra coisa senão deixar aquilo bem claro.(...) Ocorreu a Eilis que Tony era tal como se mostrava a ela; não existia nenhum outro lado dele. De repente, teve um estremecimento de medo e virou-se, descendo a escada na direção dele e do saguão o mais depressa que pôde."

"(...) Mesmo assim Tony conseguiu transmitir algo de si através dela, sua afeição, sua bondade e seu entusiasmo pelas coisas. Havia algo presente nele o tempo todo, pensou Eilis, que também estava naquela carta. A sensação de que, se ele virasse o rosto por um momento, poderia perdê-la. Naquela tarde enquanto ela se divertia no mar e no calor na companhia de Nancy, de Geroge e, no final, até de Jim, ela ficara longe de Tony, muito longe, se aquecendo no conforto de uma familiaridade que surgira de repente.


Outras palavras sobre o livro.

Minhas tardes com Margueritte (La tête en friche, 2010)

Gerard Depardieu é um dos meus atores preferidos há muitos anos. É um artista tão versátil, que capta visivelmente a alma dos seus personagens antes de encarná-los. Recentemente li alguma coisa sobre a segurança com que ele chega no set e a cumplicidade que tem com os colegas que contracena. Só alguém com tremendo conhecimento de si mesmo e da profissão consegue tanta humildade para transformar dessa maneira.
É um filme sensível. Que fala de amizade. De uma amizade improvável, mas que consegue existir na dor das histórias de vida difíceis e no sentimento dos personagens. É um encontro das diferenças!
Além da amizade o filme me traz a percepção de que Germain (Depardieu) não teve a mãe que precisava ter, e por isso sofre com toda a rejeição dessa mulher frustrada e aparentemente maluca, mas acaba descobrindo que de algum jeito ela o amava.
É um filme que mostra os detalhes, até a câmera as vezes está nos detalhes, com enquadramentos inusitados com ações acontecendo em dois planos.
A tragetória do personagem é linda, ele desabrocha e se descobre depois que conhece a linda Margueritte, com dois tês. É um filme para guardar no coração.

sexta-feira

Trem noturno para Lisboa



"Havia pessoas que liam e havia as outras. Era fácil distinguir se alguém era leitor ou não. Não havia maior distinção entre as pessoas do que esta. "

"Fiquei surpreso. Eu nunca lera a Bíblia de verdade, apenas conhecia as expressões mais famosas, como qualquer outra pessoa. Fiquei surpreso com a estranha mescla de coisas certas e bizarras. As vezes falávamos daquilo. 'Acho repugnante uma religião que gira em torno de uma história de execução', disse ele certa vez."

"De repente, senti um horror percorrendo o meu corpo e compreendi: sempre é assim. Dizer alguma coisa para outra pessoa: como podemos esperar que aquilo possa surtir efeito? O fluxo de pensamentos, imagens e sentimentos que passa por nós tem uma força tal que seria um milagre se não inundasse simplesmente todas as palavras que outra pessoa nos diz, relegando-as ao esquecimento, a não ser que coincidentemente, muito coincidentemente, combinem com as nossas próprias palavras."

"As histórias que os outros contam sobre nós e as histórias que nós mesmos contamos - quais delas se aproximam mais da verdade? É tão certo assim que sejam as próprias histórias? Somos autoridades para nós mesmos? Mas não é essa a questão que me preocupa. A verdadeira questão é: existe, nessas histórias, alguma diferença entre certo e errado? Nas histórias sobre coisas exteriores, sim. Mas quando tentamos compreender alguém em seu interior? Esta viagem algum dia chega a um fim? Será a alma um lugar de fatos? Ou seriam os supostos fatos apenas uma sombra fictícia das nossas histórias?"

"Era assim o sacerdote ateu: pensava as coisas até o fim. Sempre pensava tudo até o fim, não importava quão negras eram as consequências. As vezes, aquele seu jeito tinha algo de brutalidade, de autodilaceração. Talvez fosse aquela a razão de ele não ter amigos, com exceção de Jorge e de mim, pois quem fosse amigo seu tinha que estar pronto para suportar algumas coisas."


"Embarquei no Trem Noturno para Lisboa" no Blog de Miriam Leitão

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