segunda-feira

Bem Amadas, 2012 de Christophe Honoré




Bem Amadas (Les Bien-aimés) é um filme para rever e rever no cinema. Tão cheio de símbolos, o novo filme de Christophe Honoré tem mãe e filha trabalhando juntas. A eterna belle de jour, Catherine Deneuve e sua filha Chiara Mastroianni são mãe e filha na ficção. Mais que tudo, é um filme sobre essa relação tão forte e profunda que começa no parto e não termina nunca mais.
A vida corre intensamente para cada uma dela, são mulheres que vivem seus amores, seus momentos com grande verdade, cada uma no seu tempo, em sua própria vida, mas o elo entre as duas permanece intacto, cúmplice.


"Se Roger Vivier não tivesse criado sapatos para a Dior, minha mãe não teria virado puta". Apaixonada por sapatos, a personagem de Deneuve trabalha na loja do lendário fabricante na Londres dos anos 60 e, sem querer, um dia percebeu que dormir com alguns homens poderia lhe render os pares que tanto amava. Resolveu ser puta meio período. Conhece o amor de toda sua vida e aí o filme começa!
Os homens do filme são intensos, cada um a sua maneira. Quando um homem ama uma mulher de verdade, ele ama a alma, é muito maior que qualquer sentimento mundano, ou qualquer atitude corriqueira. É tão emocionante! É um amor como em Divinos Segredos.
A filha de Marcelo Mastroiani é linda. Seu relacionamento com Milos Forman, seu pai no longa, é alegre, vivo e cheio de carinho. "Você não foi imprudente, você foi corajosa. Ser corajoso é fazer algo sabendo que pode não dar certo".


E para terminar, Les Bien-aimés fala de liberdade. Não no sentido senso comum, de não ter amarras, de poder ir e vir sem ter que prestar contas. Fala da liberdade no sentido mais sutil: ser livre de si mesmo. Estar aberta para o mundo, se perdoar, se deixar sentir, sem personas...a verdadeira liberdade.



On the Road, 2012 de Walter Salles




On the Road, o novo filme de Walter Salles é sedutor, comovente, triste, forte, realista e justificadamente longo. Haverá quem vai dizer que o longa se arrastou, mas acredito que foi a forma que o diretor encontrou de deixar transparecer a passagem do tempo, um tempo curto demais para artifícios de maquiagem e longo suficiente para que uma turma de jovens possa crescer.
O filme é a adaptação do livro homônimo de Jack Kerouac, clássico da literatura beat. Nos anos 40 três amigos estão em busca da arte, da vida e de si mesmos. São meninos apaixonados, que cruzam os Estados Unidos de cabo a rabo várias vezes, encontrando e conhecendo pessoas que de alguma forma vão transformá-los.
A narrativa é o ponto de vista de Sal Paradise. Odiei profundamente saber que no livro a motivação dele para correr o mundo é um divórcio e no longa é a morte do pai. Entendo que para o cinema dá maior dramaticidade e maior capacidade de transformação do personagem, mas prefiro a realidade. Um divorcio é doloroso o suficiente para fazer alguém sair em busca de autoconhecimento e um pouco de aventura. Nem tudo em nome do cinema quando se está adaptando um livro!
Se tivesse lido o livro estaria irritada no cinema, mas para quem não leu o longa funciona muito bem, adorei assistir. Fico feliz de ver o olhar tão peculiar de um brasileiro sobre outro país, as imagens do interior americano, a música folk, aqueles caubóis empoeirados de Denver...
Eram o exemplo da contracultura. Sal, registrando tudo em caderninhos carregados nos bolsos, esperava o momento de escrever seu tão esperado livro. Só conseguiu fazer depois do último encontro com Dean Moriarty, quando a história deles fecha seu ciclo. Carlo Marx sofrendo pela paixão não correspondida traça outros caminhos. E Dean, o garoto que mais precisa de colo é o mais rebelde e apaixonante. Faz todos seguirem aquele coração alegre e tão cheio de vida, que esconde uma carência profunda de pai, essa que talvez seja o motivo que o impeça de assumir a própria condição de pai.
De todo modo é bonito ver como os jovens se questionavam antigamente. Esse querer entender crescia cedo neles e a vontade de conhecer o que tinha do outro lado do conforto da família resultava em  gerações mais cheias de conteúdo.
O sentido da existência, alguns conseguem encontrar, para outros a vida será sempre uma profunda questão. Saber o que fazer com essa falta de sentido é o que nos faz seguir em frente. Sal Paradise escreveu.
Saí do cinema lembrando das pessoas que passam pelas nossas vidas, significam muito, mas depois vão embora para que possamos tê-las dentro de nós.



sexta-feira

Quando sopra o vento norte, de Daniel Glattauer





Quando sopra o vento norte é um livro gostoso de ler. Desses que se devora em uma semana, porque quer saber onde aquilo vai dar.
Emmi brinca com o perigo desde as primeiras linhas, se joga numa aventura achando que está sob controle. Quando percebe que não, já colocou em cheque toda uma vida.
Ela quer cancelar a assinatura de uma revista por e-mail, mas por errar uma letra no correio eletrônico da editora, começa a se corresponder com um desconhecido. Por ele se apaixona e vivem um romance completamente inusitado.
A linguagem é descontraída como a da internet, no início o estilo de escrita em tópicos de e-mails, com assunto, fowards e etc não me agradou nada, mas logo já estava ignorando esses detalhes e pulando diretamente para as mensagens.
O livro do alemão Glattauer foi uma boa indicação da Lud, que escreve o blog http://ludludlud.blogspot.com.br/ lá do Canadá. Ela leu em francês, o livro foi traduzido em 32 línguas e quando fui pesquisar aqui no Brasil descobri que ainda não tínhamos tradução, trouxe de Portugal. A capa portuguesa é horrorosa, prefiro a francesa, e ler numa língua onde os coloquialismos são outros não é tão bom, mas...para quem é ansiosa como eu, o livro pode ser encomendado nas livrarias e demora um pouquinho para chegar. Vale a pena!


Para Roma, com amor - 2012 de Woody Allen




Nosso querido Woody Allen segue fiel ao seu velho hábito de lançar um filme por ano. Depois de chegar a conclusão de que ele está deixando de ser aquele diretor alternativo, que ninguém entendia muito bem, e está se tornando um cineasta pop, sigo relembrando o longa.
Um parêntese: de qualquer forma nivelar roteiros por cima é ótimo, se nosso pop evoluir para isso vou estar feliz. Só não vale começar a fazer alianças políticas demais e se vender, como diz o personagem do Alec Baldwin - Isso as vezes acontece!
Em primeiro lugar, Para Roma... não é incrível como Vicky Cristina... e nem uma obra de arte como Meia Noite em Paris, mas é um filme que vale a pena!
Além de voltar a atuar como um americano neurótico que a gente tanto conhece, Allen faz boas críticas sobre o mundo das celebridades instantâneas, debocha dos tapetes vermelhos e das relações superficiais.
São quatro histórias paralelas, todas ambientadas em Roma. O diretor segue firme e forte no seu tour de filmagens pela Europa e prestando verdadeiras homenagens às cidades que decide filmar. É quase um institucional se não tivesse sempre um roteiro bem amarrado e diálogos inteligentes. Mas até panorâmica da Piaza de Espanha o filme teve direito. Passando pelas ruínas da cidade que todo mundo conhece, Allen deu prioridade para as ruelas típicas da cidade. Homenageou os grandes tenores de forma bem humorada e o cinema de Fellini.
Usou o nonsense para falar da chatisse das celebridades instantâneas que tanto dão ibope nos dias de hoje, quando a industria se preocupa em saber amenidades sobre a vida particular dos outros. Roberto Benigni está hilário no papel do simplório homem de classe média que da noite para o dia fica famoso sem entender porque. E depois, quando a imprensa muda o foco ele já ficou viciado na fama.
O alter ego do garoto de Jesse Eisenberg, vivido pelo Baldwin é o ponto de vista do diretor, que se coloca nitidamente em vários momentos, inevitável.
A pequena Ellen Page faz uma (sexy?) atriz em crise porque vive uma vida tão pobre, se relaciona com o mundo de forma tão superficial que não pode ser diferente. Adoro Woody Allen por isso, ele tem uma visão tão clara da sociedade do seu tempo e a critica de forma tão ácida e descarada, que não tem como não sair de casa para ver qualquer filme seu.
E só ele, gênio e despreocupado que é, critica o título do próprio filme e conta que teve de mudar para algo assim, simplório, porque simplesmente as pessoas não entendiam o título original: Bob Decameron - Nem na Itália as pessoas sabiam quem era Decameron. Conta-se que disse o cineasta, meio abatido.

É...como eu digo, são tempos difíceis!

quarta-feira

Mundo atual



Você é famoso? Tem amigos influentes? Saiu na mídia nos últimos meses? Então você tem grandes chances de ter muitos amigos ao seu redor.
É assim que tenho visto as pessoas se relacionarem. A amizade está cada vez mais relacionada ao grau de prestígio que a outra parte pode oferecer. Ir na casa dos amigos tomar cafezinho é piegas, tricotar assuntos de cozinha, nem pensar! Falar da educação dos filhos só na terapia, na mesa do bar são só os últimos acontecimentos quentes, e de repente você percebe que ninguém está escutando ninguém.
Aquele querer bem sem compromisso anda escasso. As pessoas estão cada vez mais despudoradas na escolha de quem vai conviver, deixando para trás valores simples da vida cotidiana, da amizade sem nada em troca. Puxam o saco de quem é influente de forma assustadora na mesma medida que desprezam quem não tem prestígio.
Círculos cada vez mais vazios e cheios de pose, falta assunto para as pessoas e vêm com conversa furada de que andam muito cansadas e ocupadas para papos cabeças. Conversar sobre um mero romance virou papo cabeça, imagina conversar sobre Dostoievski. Sobre quem? É melhor não perguntar em voz alta. Alías quem lê Dostoievski é cult, já ouviram isso? Mata-me depressa, esse mundo está perdido....Estamos de volta.

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