quarta-feira

Brooklyn de Colm Tóibín

Brooklyn é mais um livro sensível, real. Adoro livros de 'vida real'. É claro que muitas vezes é maravilhoso ler sagas utópicas, ou místicas e irreais como a Hora das Bruxas, um dos livros mais incríveis da minha vida. Mas quando lemos histórias reais, mesmo romanceadas, que é o caso de Brooklyn, elas são espelhos de pessoas reais. Somos nós muitas vezes ali. Assim acontece nesse livro comovente, simples e real. Eilis é uma garota que sai da Irlanda nos anos 50 para viver uma vida no Brooklyn, em Nova Iorque. Deixa para trás a vida aconchegante na casa da família para viver numa pensão com outras meninas e viver uma vida completamente distante da sua realidade. Lá se descobre, o que muitas vezes acontece com quem sai cedo de casa e precisa estar longe da família para se entender e quando volta está tão diferente e tão madura que pela primeira vez reconhece o quão transformadora foi sua ida para a América. Só agora ela tem consciência da própria vida e das escolhas que fez.






Trechos do livro...

"Ela se pegou agradecendo ao rapaz num tom de voz que Rose usaria, um tom afetuoso e pessoal, mas também ligeiramente reservado, embora não fosse tímido, um tom usado por mulheres com pleno controle de si mesmas. Era uma coisa que não conseguiria fazer na cidade ou em nenhum lugar onde seus amigos ou familiares pudessem vê-la."

"Queria deixar aberta a possibilidade de que os motivos de todas fossem bons, mas era pouco provável, pensou, que a sra. Kehoe tivesse verdadeiramente lhe cedido o quarto por pura generosidade e era pouco provável também que a srta. McAdam e as outras garotas nao dessem, de fato, importância para aquilo e tivessem apensa desejado preveni-la (...)
Eilis gostaria de ter uma amiga de verdade entre as pensionistas a quem pudesse pedir uma opinião. E se perguntou então se o problema não seria ela mesma, que via maldade nos motivos quando não havia nenhuma intenção oculta."

"Agora Eilis daria qualquer coisa para ter ficado com elas, para ter se vestido como elas, para ser deslumbrante também, para estar entretida demais com as piadas e com os sorrisos dos que estavam em volta a ponto de nem perceber a presença de alguém que as olhasse com a respiração ofegante, como ela fazia agora.(...) Eilis não conseguia olhar para suas duas colegas pensionistas, tinha medo de ver algo de sua própria admiração idiota e de seu desconforto no rosto delas, medo de ver sua própria sensação de ser incapaz de dar a impressão de que estava se divertindo."

"Quando voltou o olhar para baixo, viu que ele não estava sorrindo; no entanto, parecia inteiramente a vontade e curioso. Havia nele um quê de desamparo, ali, esperando; sua disposição para ser feliz, sua ânsia, Eilis notou, o tornava estranhamente vilnerável.(...) Ele estava encantado com as coisas, assim como estava encantado com ela, e Tony nunca tinha feito outra coisa senão deixar aquilo bem claro.(...) Ocorreu a Eilis que Tony era tal como se mostrava a ela; não existia nenhum outro lado dele. De repente, teve um estremecimento de medo e virou-se, descendo a escada na direção dele e do saguão o mais depressa que pôde."

"(...) Mesmo assim Tony conseguiu transmitir algo de si através dela, sua afeição, sua bondade e seu entusiasmo pelas coisas. Havia algo presente nele o tempo todo, pensou Eilis, que também estava naquela carta. A sensação de que, se ele virasse o rosto por um momento, poderia perdê-la. Naquela tarde enquanto ela se divertia no mar e no calor na companhia de Nancy, de Geroge e, no final, até de Jim, ela ficara longe de Tony, muito longe, se aquecendo no conforto de uma familiaridade que surgira de repente.


Outras palavras sobre o livro.

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