terça-feira

Doidas e Santas, de Martha Medeiros - L&PM Editores


Descobri o livro da Martha Medeiros muito sem querer, numa livraria que nunca costumo ir. Era tarde da noite, tinha saído de um restaurante e sabe quando fica aquela vontade de ainda dar uma volta? Enquanto meu marido saía em busca de "Os Pilares da Terra", esgotado na editora, nos sebos e no planeta, eu vagava sem rumo olhando as capas dos livros expostos alí.
De repente a pin-up da capa me chamou a atenção, quando li o título lembrei que já tinha ouvido falar nele e quando li um trecho de uma crônica nas costas do livro, aí decidi levar pra casa.
Leitura gostosa, rápida, dessas boas para levar na viagem, ler na sala de embarque e terminar quando chegamos no nosso destino.
Martha Medeiros me lembra Clarice Lispector escrevendo sobre coisas do cotidiano, assuntos e sentimentos triviais, desmistificando, escancarando, mostrando pra quem não quer ver e pra quem quer. São dos assuntos corriqueiros que ela cria suas crônicas. Da amiga geniosa, do filme que foi assistir e saiu estasiada, da educação dos filhos, dos livros marcantes, o que me renderam boas indicações, e de assuntos que ela concorda ou discorda. Tenho a impressão de que tudo nela pode virar texto, tudo é assunto pra trazer a tona. Escreve de um jeito honesto, com senso de humor, o que torna tudo mais gostoso.
Doidas e Santas é um livro leve, desses para ler entre atos, sabe como? Entre duas leituras poderosas, dessas que te deixam sem fôlego, tonta? Martha Medeiros te faz neutralizar a mente, abrir caminho para o próximo livro.


Alguns trechos comentados de algumas crônicas...

"A separação pode ser o ato de absoluta e radical união, a ligação para a eternidade de dois seres que um dia se amaram demasiado para poderem amar-se de outra maneira, pequena e mansa, quase vegetal."
(Trecho do livro "Nas tuas mãos", de Inês Pedrosa que Martha cita na crônica "A separação como um ato de amor").

"... O que todos nós, no fundo, queremos saber: se somos amados.
Tão banal, não?
E no entanto essa banalidade é fomentadora das maiores carências, de traumas que nos aleijam, nos paralisam e nos afastam das pessoas que nos são mais caras. Por que a dificuldade de dizer para alguém o quanto ela é - ou foi - importante?" (Trecho de "Falar")

"Lembro como se fosse ontem, mas aconteceu há extaos vinte anos. Eu estava sozinha - não havia um único rosto conhecido a menos de um oceano de distância - sentada na beira de um lago. Fiquei um tempão olhando para a água, num recanto especialmente bonito. Foi então que bateu uma felicidade sem razão e sem tamanho. Deve ser o que chamam de plenitude. Não havia acontecido nada, eu apenas havia atingido uma conexão absoluta comigo mesma."
(Trecho incrível de "Emoção x Adrenalina" e aqui deixo uma resposta para a já querida escritora: sim, sei bem do que você está falando, de vez em quando, sem quê nem pra quê meu coração se enche desse sentimento de felicidade inexplicável.)

Na crônica "A Janela dos outros" a autora cita uma determinada história do livro "Os desafios da terapia" de Irvin Yalom, sobre os diferentes pontos de vista entre as pessoas e que nem sempre eles precisam nos afastar de quem amamos. Como ela diz ali, "a gente só tem olhos para o que mostra a nossa janela, nunca a janela do outro. O que a gente vê é o que vale, não importa que alguém bem perto esteja vendo algo diferente".
Essa história já chegou até mim por email. Não lembro se era a própria crônica da Martha Medeiros ou se era o trecho do livro de Irvin Yalom. O fato é que na vida temos tantas verdades, tantas janelas, que é nosso dever exercitar a capacidade de ver tudo por novos ângulos.

"A sua é de que tamanho? Difícil encontrar alguém que tenha uma solidão pequena, ajustada, do tipo baby look. Geralmente a solidão é larga, esgarçada, como uma camiseta que poderia vestir outros corpos além do nosso. E costuma ser com outros corpos que se tenta combatê-la, mas combatê-la por quê?"
Trecho de "Povoar a solidão". Saber viver com ela é uma arte. Depois que se descobre o verdadeiro valor da solidão ela pode nos ser tão proveitosa num mundo tão cheio de gente inútil. Ah....a solidão!

E a crônica que dá nome ao livro "Doidas e Santas" da qual não vou tirar nenhuma frase, nenhuma passagem ou comentário, porque essa merece ser guardada inteira! Ainda vou transcrevê-la aqui com tudo que penso sobre nós, mulheres.


Depois de ler o livro, vou atrás de:

- Nas Tuas Mãos, de Inês Pedrosa
- Biografia de Danusa Leão
- Estrela Solitária, filme de Wim Wenders, com roteiro de Sam Shepard
- Os desafios da Terapia, de Irvin Yalom
- Precisamos falar sobre o Kevin, de Lionel Shriver












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