quarta-feira

Antropofagia do coração!

                                                               (Antropofagia - Tarcila do Amaral)

Observo alguns casais ao meu redor e só de olhar por algum tempo me sinto sufocada. Sufocada por perceber que eles estão deixando de ser eles mesmos para ser uma sombra do outro, um produto da união, mas um produto frágil, que visivelmente vai sofrer numa questão de tempo, quando se olharem no espelho e não mais se reconhecerem.
Sinto que os casais hoje em dia vivem numa corda bamba, nutrindo sentimentos menos importantes para se construir uma relação baseada na lealdade, o que de fato faz uma relação ser verdadeira. Esqueceram que só podemos ser fortes como casal se formos fortes como seres humanos, como indivíduos, que têm medos, anseios, vontades, que muitas vezes não estão de encontro com as vontades e anseios do parceiro, e a mágica aí está em dar o espaço para o outro viver. Já pensou em poder se apaixonar todos os dias? Descobrir novidades do nosso amor constantemente? A mudança individual é necessária, é crucial, só precisamos saber deixar o outro ir, porque ele volta. E se não volta é porque não era para voltar, não estamos livres de desilusões, sim, sim, a vida é assim...
Vejo mulheres obcecadas em segurar seus maridos, com ciúmes do que ainda não existe, deixando de fazer o que tem vontade para que o outro não faça?!...e o pior é que o outro não faz. Esquece de sair com um amigo para conversar, esquece de ir no cinema sozinho, esquece de ir jogar bola, pôker, seja lá o que lhe interessa.
É bom sentir que estar com o outro é uma escolha! Só com alguma distância isso é possível.
Lendo os diários de Anais Nin concordei de forma absoluta "que é durante o período de afastamento que bordamos nosso amor, criando ao seu redor. Diante da presença contínua as proporções se perdem". Claro como água, lembro das paixões adolescentes, quando tínhamos que viajar com nossos pais e deixávamos o ser amado por um ou dois meses nas férias e voltávamos a nos encontrar mais apaixonados do que nunca, jurando amor eterno, como se ter ficado tanto tempo separado tivesse sido o maior sofrimentos de nossas vidas, e era.
Viver na sombra de alguém é muito triste. Você não age mais como você, não constrói relações com suas próprias pernas, não deixa o outro sentir saudades. Casal que vira um bloco não quer dizer que é casal feliz. Deixar o seu amor se expressar livremente faz ele crescer, superproteção e controle não nos levam a viver a verdadeira aventura que é amar!

Um comentário:

Lud. disse...

Concordo plenamente. Cada um tem que ter espaço paraser o que realmente é. Muitas vezes, os casais viram um só e aí nao reconhecem a pessoa do lado, aquela por quem se apaixonaram um dia. Virar um só, um bloco, como vc diz, é com certeza o início do fim.

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