quarta-feira

Meia Noite em Paris, 2011 (Midnight in Paris, de Woddy Allen)


Quando Woody Allen quer falar sobre uma cidade ele realmente fala sobre a cidade. Meia noite em Paris começa com cantinhos da cidade luz que só um produtor de locação fora de série consegue localizar. Juntando com os ângulos e câmera de Allen, que são precisos e sem frescura, somos transportados para dentro de Paris com o olhar de um morador, com cantinhos típicos de quem parou para observar, de quem caminhou pela cidade a pé. Somado ao jazz no fundo, não precisava de nenhum letreiro para dizer que mais um filme do grande cineasta estava na telona.
Fui pro cinema sem ter idéia do roteiro. Raramente faço isso porque vasculho demais antes de deicidir o filme do dia, mas em se tratando de Woody Allen quis não saber do que se tratava.
Começa o filme, quando Gil (Owen Wilson) entra no cabaré e se depara com Zelda Fitzgerald soube que teria momentos de muita diversão durante os 60 minutos seguintes. Depois das risadas angustiadas de Vicky Cristina Barcelona fazia dois anos que não me esbaldava com um filme seu que fosse realmente hilário.
Tirando o fato que Allen é um cineasta que fica cada vez melhor conforme os anos vão passando, em Meia Noite ele usa toda aquela alegoria para tratar de um assunto tão familiar para os seres verdadeiramente nostálgicos. A insatisfação com a época que vivemos é um assunto clássico entre muitas rodas de amigos. Não vou dizer cem por cento mas grande parte das pessoas interessantes que tenho o prazer de ter do lado pelo menos alguma vez me disse que gostaria de ter vivido em alguma outra época que não a nossa. Faz parte do mistério glamuroso de se ver vivendo numa época mais romântica, ou mais intelectualizada ou mais rebelde que vaga no nosso coração. E os menos sonhadores sempre nos contam o que tinha de ruim na época e que hoje é completamente transformado. Aquela velha história - ah, os anos 70 deviam ter sido incríveis, com a contra cultura gritando alto, época de música engajada latente no Rio de Janeiro. Daí alguém logo vira para você e diz - você queria viver sem liberdade de expressão, em plena ditadura?
É assim, o mundo está mais ou menos dividido entre os sonhadores e os que catapultam nosso delírio e tentam nos trazer pra a realidade nua e crua.
Por isso amei tanto esse filme. O personagem é tão nostálgico que vive um absurdo! Eu sinceramente ia amar acordar no meio de Sartre, Beauvoir sua turma bem no início do existencialismo, naqueles cafés em Paris nos anos 20. Sim exatamente nessa época porque depois eles ficam chatos e politizados demais e aí eu preferiria pegar um carro antigo à meia noite e ir encontrar Cole Porter em algum lugar bem boêmio da época.
Vale deixar registrado que gostei muito da atuação do Owen Wilson, fazendo aquele ar meio neurótico dos personagens de Woody Allen, onde a gente sempre consegue enxergar o cineasta atuando, no jeito de andar, nas expressões e nos diálogos cheios de riqueza, escritos por quem o intelecto está num status acima da média.

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