quinta-feira

Filhos de mães, porque eu?


Hoje fui almoçar com uma amiga que não via há anos. Ela é uma mulher madura, independente, que acabou de fazer 40 anos, se sente com 30 e cria uma filha com a preocupação de deixar um legado. Um legado cultural. Com um enorme conhecimento sobre artes plásticas ela procura despertar na filha um olhar diferenciado para o mundo, esse mundo tão mesmerizado que andamos vivendo. Onde diferenças parecem que não são mais bem vindas, é interessante  colocar o filho numa escola onde ele vai conviver apenas com semelhantes.  Ela tem a sábia compreensão de que essa pessoa vai crescer numa bolha até se tornar um adulto incapaz de abraçar tanta riqueza que há em conviver com mundos totalmente diferentes dos seus. E vai sofrer.
Quando a gente encontra alguém assim, depois de tanto tempo, muitos assuntos vêm a baila, educação dos filhos, trabalho, prazeres, viagens, amores e desamores. Dentre todos eles, o assunto intrigante daquelas horas alí com ela foi o tão famoso e misterioso complexo de Édipo. Essa relação tão forte entre mãe e filho, uma ligação tão profunda até visceral e uma dependência camuflada ao longo da vida por esse amor e aceitação que os filhos homens carregam por suas mães. De uma maneira idolatrada ou com uma animosidade secreta, que se traduz naqueles filhos que batem de frente, os homens sempre estão em busca da aceitação materna. Aprofundamos o assunto quando ela me falou de um conhecido que precisou perder a mãe para se libertar dela. Pra cortar o cordão umbilical e conseguir se apropriar do que verdadeiramente ele é. A minha amiga, muito religiosa, inclusive cita um trecho da Bíblia que em outras palavras quer dizer que o homem precisa, para conseguir construir um lar, deixar pra trás a casa dos seus pais e a partir daquele momento sua família passa a ser o núcleo que se forma. Conheço pessoas que depois que saíram de casa de verdade por um tempo, tiveram coragem pra se olhar no espelho e se descobrir, sem o olhar atento da mãe intimidando seu voo solo. Eu, como mãe de menino, procuro acreditar que as mães fazem esse tipo de desastre na vida dos seus meninos porque amam demais, sentem aquela ligação forte demais pra deixar seus pequenos homenzinhos voarem pra longe, para outros colos femininos. Mas depois de alguns anos de terapia e exercício do meu raciocínio, percebo que mães são responsáveis pela origem de todos os nossos problemas, digo todas aquelas nóias que criamos sem perceber e que só curamos quando saímos de casa, colocamos limites, deixamos pra traz o que não é  nosso, o que é dela, ou mais largamente o que é do pai e finalmente nos tornamos prontos pra voltar, dessa vez apenas para amar, se reencontrar na família de onde viemos, se divertir naquela dinâmica muitas vezes alucinante, pedir um colo e depois seguirmos vivendo no mundo, a nossas próprias vidas.
Meu filho ainda não tem dois anos, ainda vamos viver muitas histórias juntos, e o nosso amor pelo que percebi que acontece quando temos filhos, só tende a aumentar. Sei que no futuro, esse filho adulto vai ter seus devidos problemas comigo, mas a cada dia que vejo esse amor aumentando peço que cresça junto o discernimento, a maturidade, o sangue frio, seja lá o que vou precisar, para que eu não acorrente esse ser que tanto amo, que criei com tamanho amor. Que minha razão seja capaz de controlar meu coração para que esse homem consiga ser verdadeiramente livre e que possa voltar quando quiser e tiver saudades dos meus braços.

2 comentários:

Cristiana disse...

Lembrei agora de uma aula de psicanalise onde me rebelei, por que no final das conta tudo era culpa da mae ! O psiquiatra começou a rir e me disse começa a fazer análise e assim começou meu processo analítico que durou sete anos. Descobrir que só paassei a mar verdadeiramente meu pai e minha mãe quando passei a enxerga-los como seres humanos normais, cheios de medos e defeitos. Confesso que foi um alívio!!!

sabrina. disse...

Acho que tudo sempre se repete, somos filhos e um dia nos tornamos pais. nessa hora humanizamos nosso pai e nossa mãe, eles se tornam como nós!
Psicologia é um curso e tanto!!

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