quinta-feira

Um Dia, de David Nicholls


A maioria dos livros que leio, quando acabo vem um sentimento estranho, uma espécie de solidão. Terminar um livro não deixa de ser uma despedida. Por milhares de motivos talvez nunca mais você o pegue para ler de novo, o que possivelmente é o caso de Um Dia. Esse foi um livro que demorei para engrenar, não entendi muito o motivo, mas talvez fosse o livro certo na hora errada. De qualquer forma é um bom livro. Nicholls conta a historia de duas pessoas ao longo de 20 anos, mostrando como andam suas vidas em 15 de Julho de cada ano. Encontros e desencontros se arrastam em alguns momentos, mas gostei do texto bem humorado, limpo, claro, bem como eu gosto. Emma é uma garota cult, meio intelectual, que faz teatro e gosta de escrever. Dexter é um playboy meio perdido que cai de paraquedas no mundo da televisão, fica famoso, gosta da fama, vive uma vida de noitadas, drogas e relações superficiais. Foram pessoas que estavam vivendo a mesma realidade durante a faculdade, quando se conheceram, mas a vida os faz seguir caminhos diferentes. Ainda assim insistem em não perder o vínculo. É aquela história romântica das pessoas que passam pela sua vida num determinado período, algumas realmente se vão depois que deixamos aquela fase, outras por mais que o destino te ponha a milhas e milhas, sempre vão estar perto do coração.
O final é surpreendente. Não costumo parar livros pela metade, em alguns momentos durante essa leitura outros livros me despertaram o interesse, mas segui em frente e valeu a pena, devorei o final numa tarde, quando decidi que essa leitura já tinha se estendido demais e precisava saber que fim teriam aqueles dois.
Esse livro vai virar filme, ou melhor, já virou, mas não chegou ainda no Brasil. Antes de começar a leitura, li a orelha, como sempre faço, e nela a editora teve a infeliz idéia de contar quem é a atriz que faz o papel de Emma Morley. Não pude construir o personagem na minha cabeça, o que é mais mágico num livro, e fiquei o tempo todo com a cara da atriz na minha frente. Se um dia for indicar esse livro para um amigo, já adianto - não leia a orelha se quiser construir a sua própria Emma, depois, no filme, veja se ela é como você imaginou!


Aqui vai mais uma opinião sobre UM DIA. Dessa vez é o site de Patricia Cálão, uma portuguesa com uma página bem bacana, que vale a visita!



Trechos de Um Dia..

"(...) Acho que você tem medo de ser feliz Emma. Parece que pensa que o caminho natural das coisas na sua vida e ser triste, sombria e macambúzia, e odiar seu emprego, odiar o lugar onde mora e não ter sucesso nem dinheiro (...) Na verdade vou mais longe: acho que você gosta de se sentir frustrada e ter menos do que queria ter, porque isso é mais fácil, não é? O fracasso e a infelicidade são mais fáceis, porque você pode fazer piada com isso. Está incomodada? Aposto que sim. Bem, estou só começando."

"As vezes pensa como seria bom ser despertada por um telefonema no meio da noite: "Pegue um táxi agora mesmo", ou "preciso encontrar com você". Mas na maior parte do tempo se sente como uma personagem de um romance de Muriel Spark - independente, aficionada por livros, inteligente e secretamente romântica. Aos vinte e sete anos, Emma Morley tem um diploma com duas menções honrosas, em inglês e em história, uma cama nova, um apartamento de dois cômodos em Earls Court, muitos bons amigos e uma pós-graduação em educação."

"Havia algo de não convincente e efêmero naquelas tentativas de construir um lar, como se fossem duas crianças montando uma cabana, e, apesar da pintura nova, dos quadros nas paredes, dos novos móveis, o apartamento mantinha a mesma atmosfera de coisa gasta e temporária."

"Na primeira noite, quando fecharam a porta da frente e abriram o champagnhe, Emma teve vontade de chorar. É normal demorar algum tempo até sentirmos que é a nossa casa, disse Ian ao abraçá-la na cama naquela noite, e ao menos eles tinham conseguido subir um primeiro degrau. Mas a ideia de subir as escadas juntos, degrau após degrau, ano após ano, a enchia de uma terrível tristeza. E o que haveria no topo?"

"O que aconteceu com as amigas? Eram engraçadas e gostavam de se divertir, eram gregárias e interessantes, mas cada vez mais noites são passadas como aquela, com casais pálidos, irritados e com olheiras em salas malcheirosas, conversando sobre o milagre de o bebê estar crescendo em vez de diminuindo. Já cansou de expressar a alegria ao ver um bebê engatinhar, como se isso fosse um desenvolvimento completamente inesperado. O que eles esperavam, que voasse?"

"Sente-se particularmente aborrecida com isso, seus amigos homens fazendo o papel de jovens papais: irritadiços porém de bom humor, exaustos porém modernos, com suas jaquetas militares e calças jeans, barriguinhas protuberantes e aquela expressão de contentamento ao jogar o júnior para o alto."

"Sim, eles ainda se divertiam juntos, embora agora fosse diferente. Todo aquele desejo ardente, a angústia e a paixão foram substituídos por um ritmo estável de prazer e satisfação, com alguns atritos ocasionais, mas parecia ser uma mudança para melhor. Talvez Emma já tivesse sido mais feliz em outros momentos da vida, mas nunca as coisas estiveram tão estáveis quanto agora."

"Por quê? O que você quer fazer? - ela perguntou, embora soubesse a resposta. Dexter colocou a mão no pescoço dela, ao mesmo tempo que Emma tocava de leve o quadril dele, e os dois se beijaram no meio da rua, rodeados de pessoas que corriam para casa sob os últimos raios do sol de verão, e foi o beijo mais doce que já tinham sentido."

6 comentários:

Lud. disse...

Oi Sabrina,

Sim lemos o mesmo livro. Eu também já sabia que sera aquela atriz quando peguei o livro, porque justamente o que me despertou o interesse pela historia, justamente foi o trailer do filme que vi no cinema. Saí dali com uma vontade de ler e logo! Para poder ir comparar o livro e a adaptaçao cinematografica, como costumo sempre fazer.

O script do filme foi escrito pelo mesmo autor (em alguns casos é diferente, né?). Entao a trama é praticamente identica. Se voce gostou do livro, na certa vai gostar do filme também, que aliás tem belissimas cenas.

Mas a minha opiniao mesmo... enfim. Eu nao gostei da historia. Li até o final e detestei os personagens, que achei patéticos.

Escrevi alguma coisa sobre isso aqui: http://ludludlud.blogspot.com/2011/07/un-jour-david-nicholls.html

mas nao sei se em francês serve...

um beijo

Lud.

sabrina. disse...

ah em Francês é mucho para mi! rs

Lud, mas por que vc amou tanto o filme e odiou o livro? Pelo que entendi vc correu p comprar o livro quando viu o trailler nao foi?
Queria entender o que de patéticos têm os personagens. Dexter viveu uma fase da vida bem patética, concordo, mas o amadurecimento dele é algo bem forte no livro. Ele se torna um homem decente.
escreve mais p eu te entender!

beijo.
sa

Lud. disse...

Acho que fiquei irritada com a burrice dos personagens, tanto no livro quanto no filme. Gostei mais do filme porque achei que a leitura foi, em certos capítulos, muito longa, com passagens chatas e inúteis, que poderiam ter sido evitadas. Me pareceu como aquela época em que os autores eram pagos segundo o numero de páginas escritas... você entende?

O que mais me irritou, foi que 80% do tempo o Dexter foi «a pain in the ass». Um perfeito idiota, imaturo. Tanto nas açoes com os pais dele quanto com a Emma (menos quando ele oferece à ela a viagem).

A Emma, por sua vez, foi um personagem muito clichê! Estou rodada de Emmas na faculdade. Esse pessoal que é idealista demais, politizado porque é bacana e com um look hypster mais fingindo ser intelectuais do que realmente podem ser (ou ter alguma preocupaçao real e profunda). Sabe essa sensaçao de "déjà vu"? Que você já viu demais aquilo? Que é tudo menos original?

Outra coisa irritante: agente compreende desde o inicio que os personagens se curtiram... mas que por fazer joguinhos de seduçao e ficarem pensando "no que vai ser", ou no que "achará o outro" disso ou daquilo, perderam tempo. Aliás, perderam a vida toda. Se tivessem sido sinceros desde o inicio para com seus sentimentos, a sucessao de burrices que cometeram nao teriam ído adiante. Nao te irritou, isso?

Ah. Acho que realmente fiquei com uma má impressao desse romance.

Mas posso te sugerir um filme que vi na mesma semana que esse «Um dia»? Vi "Crazy Stupid love", que tb é uma comédia romantica... e achei bacana, diferente. Vai lá e me avisa quando criticar, tá? Estou adorando a troca... ninguem lê a mesma coisa que eu para conversar comigo. O mais legal é que cada uma do nosso lado, lemos a traduçao da mesma obra. Nao é engraçado isso? Ainda bem que os best-sellers sao traduzidos em tantas linguas. Quase sempre se encontra o que se lê por aí (e acho que vice-versa, né?).

beijo

p.s.: desculpa meu português, sei que tá pessimo... falta de prática, juro! Me avisa se nao tô mais falando coisa com coisa...

sabrina. disse...

Estou adorando essa troca também! Já tentei fazer um sarau para discutir literatura por aqui mas não rolou, virou papo de cumadre! rs o que tbem foi bom, mas amo falar sobre livros!

Eu acho que o propósito do livro é justamente esse; mostrar as besteiras que fazemos quando temos 20 anos. Se nao essas, outras, mas as atitudes dos jovens sao mais incosequentes, muito pela energia e vontade de ganhar o mundo e ao mesmo tempo medo de amar. Sim, muitas besteiras eles fazem!

Quanto ao estereótipo da Emma, imagino que devam ter várias na faculdade, principalmente hoje em dia, que é "legal" ser cult, que curso vc faz? Entendo tua irritaçao, me diverti com teu comentário!
Mas será que não foi essa a intenção do autor? Criar uma relação entre duas pessoas completamete opostas? uma relação improvável?

Concordo muito contigo sobre algumas passagens arrastadas, demorei pra ler o livro, nao devorei cada página como disse no post.

Vc já leu Liberdade do Jonathan Franzen? Esse sim, é fantástico, lê!

Seu portugues esta inteligível, fica tranquila! rs

Lud. disse...

Até acredito (e muito) em pessoas diferentes que se amam ou que sao amigas e que essas relaçcoes pouco provaveis possam realmente vir a acontecer e serem feliz encontros. Mas vamos combinar que Emma e Dexter... tava puxado, né? rs

Queria muito de sugerir uma leitura deliciosa que fiz ultimamente e que com certeza você ia adorar. É um autor francês, se chama Frederic Beigbeder. Você ja ouviu falar? Acho que alguns de seus livrs viraram filme, mas eu nao vi nenhum. O livro que gostaria de sugerir se chama «L'amour dure trois ans» (O amor dura très anos) é engraçado, inteligente, interessante e original. Fazia tempo nao lia nada tao bom. E ri bastante. Procurei em que linguas tinham traduzido... mas nao me parece ter sido em português. Você lê em inglês, as vezes?

sabrina. disse...

Vou procurar! Anotado! : )

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