segunda-feira

On the Road, 2012 de Walter Salles




On the Road, o novo filme de Walter Salles é sedutor, comovente, triste, forte, realista e justificadamente longo. Haverá quem vai dizer que o longa se arrastou, mas acredito que foi a forma que o diretor encontrou de deixar transparecer a passagem do tempo, um tempo curto demais para artifícios de maquiagem e longo suficiente para que uma turma de jovens possa crescer.
O filme é a adaptação do livro homônimo de Jack Kerouac, clássico da literatura beat. Nos anos 40 três amigos estão em busca da arte, da vida e de si mesmos. São meninos apaixonados, que cruzam os Estados Unidos de cabo a rabo várias vezes, encontrando e conhecendo pessoas que de alguma forma vão transformá-los.
A narrativa é o ponto de vista de Sal Paradise. Odiei profundamente saber que no livro a motivação dele para correr o mundo é um divórcio e no longa é a morte do pai. Entendo que para o cinema dá maior dramaticidade e maior capacidade de transformação do personagem, mas prefiro a realidade. Um divorcio é doloroso o suficiente para fazer alguém sair em busca de autoconhecimento e um pouco de aventura. Nem tudo em nome do cinema quando se está adaptando um livro!
Se tivesse lido o livro estaria irritada no cinema, mas para quem não leu o longa funciona muito bem, adorei assistir. Fico feliz de ver o olhar tão peculiar de um brasileiro sobre outro país, as imagens do interior americano, a música folk, aqueles caubóis empoeirados de Denver...
Eram o exemplo da contracultura. Sal, registrando tudo em caderninhos carregados nos bolsos, esperava o momento de escrever seu tão esperado livro. Só conseguiu fazer depois do último encontro com Dean Moriarty, quando a história deles fecha seu ciclo. Carlo Marx sofrendo pela paixão não correspondida traça outros caminhos. E Dean, o garoto que mais precisa de colo é o mais rebelde e apaixonante. Faz todos seguirem aquele coração alegre e tão cheio de vida, que esconde uma carência profunda de pai, essa que talvez seja o motivo que o impeça de assumir a própria condição de pai.
De todo modo é bonito ver como os jovens se questionavam antigamente. Esse querer entender crescia cedo neles e a vontade de conhecer o que tinha do outro lado do conforto da família resultava em  gerações mais cheias de conteúdo.
O sentido da existência, alguns conseguem encontrar, para outros a vida será sempre uma profunda questão. Saber o que fazer com essa falta de sentido é o que nos faz seguir em frente. Sal Paradise escreveu.
Saí do cinema lembrando das pessoas que passam pelas nossas vidas, significam muito, mas depois vão embora para que possamos tê-las dentro de nós.



3 comentários:

Lud. disse...

Estou justamente com o livro do KEROUAC aquilon pra ler... So entao vou ver o filme, não consigo fazer diferente. Beijo

Leo|mascaro disse...

É um baita filme, sem discussão! Sobre ser arrastado, o que me cansou foi a repetição de cenas, diálogos e situações parecidas à exaustão. Mas depois de ler seu texto, concordo com as decisões!

E apesar da nacionalidade das personagens e das locações, o Waltinho conseguiu fazer um filme totalmente internacional, em termos de identificação.

E sobre o final do seu texto, sobre as pessoas que passam por nossas vidas, senti algo parecido quando assisti E Sua Mãe Também!

Ótimo texto, mais uma vez!!

beijos

Marcia Kamijo disse...

"... the only people for me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, mad to be saved, desirous of everything at the same time, the ones who never yawn or say a commonplace thing, but burn, burn, burn like fabulous yellow roman candles"

tbm lembrei de E sua mãe tbm! adorei os dois!

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