domingo

O Hamlet de Thiago Lacerda






Foi no dia do último capítulo da novela que arrebatou os brasileiros. As ruas desertas. Começamos a nos aproximar do teatro da PUC e as pessoas se aglomeravam. Era noite de estréia. Thiago Lacerda faria Hamlet.
Fico aflita pelo ator, me coloco no lugar dele, quando pela primeira vez vai levar ao palco uma peça de teatro. É tudo ou nada, é ali e agora, sem cortes, sem possibilidades de um novo take. Já tinha assistido há pouco ao Wagner Moura no papel, tinha gostado daquela adaptação contemporânea da peça, do figurino, que ainda continuo achando incrível, da ausência de coxia, com os atores em cena durante todo o espetáculo, funcionando tudo de maneira orgânica, fluida...
Foi inevitável a comparação.
E como a grande força da peça é o ator, gostei demais do que vi no Tuca. Surpresa, me admirei pela competência desse ator tão galã, que cansa tanto nas telas da televisão. No teatro ele se revela lindamente. Ele sabe exatamente o que fazer com todo aquele um metro e muitos de altura. Tem postura. Tem classe no palco. Logo estamos envolvidos pelo eterno dilema de Hamlet e pela tamanha falta de força do atormentado personagem.
Sim, com todos os possíveis caminhos de análises e concepções para a tragédia de Shakespeare, na direção de Ron Daniels, o foco é um príncipe frouxo, com uma personalidade fraca, que vive sob a sombra de um pai honrado e amado. É incapaz de enfrentar a vida e portanto usa a clássica farsa da loucura para forjar seus planos de vingança.
A montagem, por mais alternativa que seja, tem uma linearidade necessária para o entendimento do todo, ali se contou uma história, diferente de enfatizar demais a loucura e o tormento do garoto e não dar um sentido para o público, cumprindo o papel do teatro clássico.
Por último, usar o clown para dar humor às cenas irônicas e não engraçadas gerou um paradoxo. Me causou um estranhamento e talvez uma forçação de barra, como se o objetivo fosse chamar o público para uma boa risada, mas num texto trágico e irônico como esse? O riso vem da constatação da hipocrisia e não da comédia rasgada desse tipo de humor.

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