quarta-feira

Para meu pai.


Há um tempo atrás, meu pai me escrevia cartas. Era uma forma de me passar valores e reflexões que se fossem passadas no tét-a-tét poderiam soar imposições ou sermões de filhos que não estão entendendo onde querem chegar os pais, nada fora do normal quando se é jovem demais.
O fato é que essas cartas estão guardadas, além de fisicamente num lugar especial, estão no lugar mais precioso que poderiam estar, no meu coração.
Sempre muito emocionadas e emocionantes, meu pai sempre passou valores tão verdadeiros e tão fortes que impregnaram de alguma forma o ser que habito. Meu pai escreve bem, as vezes exagera no vocabulário pra lá de erudito, como quem lê dicionários, mas a mensagem é sempre bonita, essencial e, muitas me acompanharam por muito tempo e me ajudaram a me tornar quem sou.
Numa dessas cartas ele me escreveu um poema de Gibran Khalil Gibran que falava sobre filhos. Me lembro que essa carta veio pra mim por fax, enorme....linda...e o poema estava pelo meio. Hoje, mãe de uma criança feliz, sinto na pele muito do que ele dizia nas cartas, que por mais emocionada que ficasse, não entendia a profundidade de tudo aquilo.
Há poucas semanas, quando peguei um livro para ler, logo na primeira página lá estava ele, o poema que meu pai um dia me mandou por fax, e ele dizia assim:




"Seus filhos não são seus.

São filhos e filhas da vida e da ânsia de viver.

Vêm ao mundo através de você,

mas não são uma extensão do seu ser.

Estão com você, mas não lhe pertencem.

Podem receber o seu amor, mas não os seus

pensamentos, pois têm os seus próprios.

Você pode acolher seus corpos, mas não suas almas,

Pois elas habitam o amanhã; algo que você

não conhece sequer em sonhos.

Pode tentar ser como eles, mas jamais

fazê-los serem iguais a você.

Você é o arco e as crianças são as flechas

disparadas em todas as direções.

Pois seja flexível e deixe que o arqueiro as

arremesse diretamente para a felicidade."



O amor por um filho é tão grande que as vezes dói. Uma dor de amor maior, de querer bem acima de tudo, até de você. Achava bonito, diferente, mas não entendia quando meu pai dizia que nos amava, a mim e a meus irmão, no ponto de encontro entre duas setas. Hoje sei bem o que é isso.

3 comentários:

Lud. disse...

Adorei o poema. Lindo. Obrigada por compartilhar.

Maurício disse...

Eu ja sou facil de me emocionar ... Gostei muito , nao so do poema , mas de vc se mostrando do jeito que eh !!

Bazar da Cafeteria disse...

Adorei! E achei sensacional sobre o ponto de encontro entre as duas setas! ;-)

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