quinta-feira

Meu País, 2011 de André Ristum



Gosto muito quando o cinema nacional se propões a fazer drama. Nos tira do estereótipo de cenários nordestinos e comédias globais e nos coloca num outro patamar. E isso tem acontecido com o tempo, viva!
Meu País mostra a vida de dois irmãos distantes virar de cabeça para baixo quando descobrem, logo após a morte do pai, vivido por Paulo José, que têm uma irmã doente mental e precisa ser reintegrada a família, ou seja precisam tirá-la da clínica para viver com eles.
É um filme muito sutil, não te dá respostas, deixa o espectador construir o passado e o futuro daqueles personagens tão diferentes, que carregam uma carga emocional tão grande.
Rodrigo Santoro e Cauã Reymond fazem os papéis dos dois irmãos, completamente diferentes entre si. Débora Falabella faz a irmã. Gosto da atuação dos três, o Brasil está investindo claramente na preparação de elenco dos seus filmes, o que resulta num trabalho de maior entrega dos atores e portanto melhor qualidade. Grandes desafios para Debora e Rodrigo, já Cauã faz, no geral, um papel mais parecido com o que já fez, mas responde muito bem nos momentos mais delicados, quando é preciso ser menos no cinema, quando se emociona, quando olha o irmão no olho para dizer obrigado.
Com uma atuação contida, Rodrigo Santoro arrasa, se supera e se entrega para um filme de olhares, expressões sutis e muito sentimento. Tenso, é como se ele fosse implodir a qualquer momento. É um personagem que carrega um passado sofrido pelo que percebemos, quando Tiago (Cauã) se rebela dizendo que são dois abandonadinhos do papai, um que foi para o colégio interno e a outra..., o filme não diz, sugere, te faz construir o que pode ter acontecido para aquela família ter se desestruturado tanto. E quando volta para o Brasil, Rodrigo sem querer, abra a caixa de Pandora. Amo a cena que, vendo numa câmera com os irmãos um video do pai pouco antes de morrer, ele se emociona, aquilo é muito para ele. Mas, transformador, naquele momento ele deixa de ser filho, se torna pai, de uma criança vindoura que nunca havia querido planejar.
Aliás a italiana que faz a mulher de Rodrigo é linda, suave. Num momento ela diz que admira muito o que ele está fazendo pela irmã, mas questiona o porque - de onde surgiu tamanha vontade de cuidar de alguém daquele jeito? É outra cena forte. Como ter fechado a porta na cara da menina Manuela quando precisava de espaço para chorar, elaborar tudo aquilo que estava vivendo junto do marido.
Por fim, não posso esquecer do olhar de Débora Falabella quando acorda na praia, depois da viagem de carro. Um olhar infantil, inocente, maravilhado. Ela conseguiu ir buscar lá na infância aquela sensação de deslumbramento, como uma criança descobrindo o mundo. Se as filmagens começaram pelas cenas externas, e o final foi gravado antes, como muitas vezes acontece, palmas para a atriz, digna de premiações.
É um filme emocionante, daqueles que precisamos ver mais de uma vez. Na primeira você concentra na história, na segunda você entende os porquês, olha melhor para os personagens, tenho certeza que na terceira ainda descobriremos coisas. Gostei de Meu País, gostei muito! Tenho certeza que vou guardar essas cenas na lembrança.

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